Abstract

O problema No mundo, os principais motivos dos óbitos maternos são as causas diretas, com destaque para os distúrbios hipertensivos e a eclampsia (SAY et al., 2014). No Piauí não é diferente, já que as principais causas diretas de óbito na gravidez, parto e puerpério são: eclampsia (16,4%), hemorragias obstétricas (15%) e transtornos hipertensivos (11,3%) (BRASIL, 2018). A mortalidade materna vem reduzindo no Brasil, alcançando seu valor mínimo de 57,6 óbitos por 100 mil nascidos vivos em 2015. Entretanto, pelas metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), esse número deveria ter sido reduzido para no máximo 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos (NVs). Se mantida a velocidade com que a mortalidade materna vem sendo reduzida, dificilmente a meta de reduzir a Razão de Mortalidade Materna (RMM), no Brasil, para 30 óbitos por 100 mil nascidos vivos até 2030 será alcançada (SILVA et al., 2016; LEAL et al., 2018). Além disso, as disparidades regionais quanto à mortalidade materna são grandes, destacando-se o Norte e o Nordeste com as maiores RMMs. Na avaliação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2017, o Piauí apresentou o terceiro pior desempenho do País e o segundo pior desempenho na Região Nordeste, com RMM Vigilância de 103,6 por 100 mil NVs e RMM Direta de 83,2 por 100 mil NVs em 2015 (BRASIL, 2018b). Em 2018, no Piauí, a RMM direta foi estimada em 80,1 por 100 mil NVs, mais do que dobro da taxa máxima aceitável, e justifica intervenções complementares às que já vêm sendo implementadas pela Rede Cegonha no estado desde 2014 (BRASIL, 2019). Entre as barreiras para reduzir a mortalidade materna no Piauí, destacam-se: a) Monitoramento avaliativo insuficiente das condições de saúde da gestante para a detecção e o manejo adequado e oportuno do risco em todos os níveis de atenção. b) A ausência de implementação efetiva da referência e contrarreferência à gestante em uma rede de atenção que atenda às demandas existentes, pois a capacidade regional é insuficiente. 7Ministério da Saúde / Síntese de evidências para políticas de saúde Estratégias para redução da mortalidade materna no estado do Piauí c) Uso incipiente de tecnologias leves do cuidado, como ações educativas durante o pré-natal, parto e puerpério, e a utilização em nível insatisfatório do guia de classificação de risco da gestante durante o pré-natal. Assim, com base em revisões sistemáticas da literatura, essa síntese apresenta três opções que podem contribuir para reduzir a mortalidade materna (MM) no Piauí. Opções de enfrentamento do problema Opção 1 – Rastreamento da hipertensão e da pré-eclampsia na gravidez Realizar o monitoramento de qualidade da pressão arterial pela equipe de Saúde da Família durante toda a gestação e implementar o teste de proteinúria na Atenção Básica para as gestantes de risco. Opção 2 – Envio de mensagens de texto via celular para gestantes de alto risco e equipes de Saúde da Família Implementar um sistema de envio de mensagens de texto via celular, entre as gestantes de alto risco e as equipes de Saúde da Família para promoção e educação em saúde, prevenção de agravos e ampliação do acesso ao cuidado na Rede Regionalizada de Saúde. Opção 3 – Capacitação das equipes de Saúde na Atenção Primária em Saúde (APS) Implementar ações de capacitação (encontros e visitas educativas, práticas facilitadas, líderes locais de opinião, auditoria e feedback) que promovam mudanças cognitivas e de comportamento dos profissionais de Saúde da Família. Considerações gerais acerca das opções propostas Para a implementação das opções para redução da MM no Piauí, será necessária a participação coletiva e ativa dos atores envolvidos, em especial os tomadores de decisão. São intervenções que levam em consideração o contexto local dos territórios de saúde do estado e que podem ter a implementação facilitada se integradas a outras iniciativas e ações governamentais, como a Rede Cegonha. O monitoramento e a avaliação do impacto proveniente da implementação das opções propostas deverão usar parâmetros e indicadores apropriados para a avaliação do uso das evidências científicas na elaboração e implementação de políticas de saúde. As opções apresentadas podem contribuir para a equidade no acesso aos cuidados de saúde e para diminuição da mortalidade materna no estado do Piauí. Melhorar o monitoramento da hipertensão (opção 1) com o uso da tecnologia móvel (opção 2) e oferecer capacitação para as equipes de saúde (opção 3) são ações que podem diminuir os vazios assistenciais e aumentar o acesso das gestantes e dos profissionais às informações necessárias à prevenção da eclampsia e, consequentemente, reduzir a mortalidade materna no Piauí.